terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sobre Saratov

Ainda no trem, pouco antes de chegar à cidade de Saratov, pode-se ver um pouco dos arredores da cidade: é um verdadeiro choque para quem espera encontrar uma cidade européia ou um pórtico histórico para recepção dos visitantes. Excetuando o centro da cidade, no geral Saratov é digna de uma república ex-soviética: prédios antigos, nem um pouco chamativos pela arquitetura, todos muito semelhantes. Além de muitas construções que, creio eu, abandonadas.

Em contraste a isso, a parte central possui muitas construções com rica arquitetura e muito bem conservados... um fato que constatei é que, pelo menos na Rússia (não tive a oportunidade de conhecer outros países) prédios públicos são muito bem cuidados. Bem, me parece que o centro é a alma de Saratov. Tudo está no centro: as universidades, a administração, as igrejas, as praças, o comércio (é claro) e até a famosa ponte sobre o Rio Volga não está muito longe da região central. Ah, a AIESEC também está no centro.

Bem, um problema que percebi (e que, depois de eu mesmo constatar isso, me confirmaram) é que a Rússia como um todo possui péssimas ruas e estradas. Quanto a isso, é muito semelhante ao Brasil: não é em todo lugar, mas muitas ruelas (daquelas que só passam um carro) são intransitáveis, eu não andaria com meu carro em uma rua com aquelas condições. Uma situação alguns dias atrás, por exemplo: eu, o Semyon e a mãe dele estávamos nos dirigindo ao centro, de carro. Em uma parte do trajeto, tivemos que passar por uma rua como essas. Um detalhe, em metade da rua (uma parte mais inclinada) havia gelo. Assim, outro carro esperava por nossa passagem, mas trancava a parte sem gelo da rua. Era evidente que se tentássemos avançar o carro iria derrapar. Mas o outro motorista demorou mais de um minuto para perceber isso. Assim, ficamos um longo tempo esperando que o outro carro recuasse para podermos passar. Ah, antes que alguém pergunte: era impossível para nós recuar, pois havia um poste logo atrás e o nosso carro estava posicionado para os outros passarem. Foi uma situação inusitada e que não acontece no Brasil.

Além disso, muitas ruas possuem desnível e a sinalização horizontal é precária por aqui... quando muito uma faixa de pedestres, mas que os motoristas respeitam muito: quando um pedestre atravessa a rua, os motoristas param, e muitas vezes, mesmo sem ser na faixa de segurança. Característica européia da Nova Rússia. Em contrapartida o transito é exatamente como o de uma cidade com um milhão de habitantes no Brasil: caótico e nervoso. Congestionamento, motoristas sem paciência e estacionar é um desafio. Tudo isso com o agravante de a cidade ser cortada por trens urbanos: sim, é um meio de transporte inteligente no sentido de transporte público e de fácil manutenção. Mas como eles não possuem uma rota isolada dos outros meios de transporte, isso bloqueia o trânsito, pois são desajeitados: quando ficam parados em uma curva, por exemplo, trancam todo o cruzamento e quando vão atravessar este cruzamento, devem ter espaço para os seus muitos metros de comprimento não ficarem na frente dos motoristas na rua perpendicular... e, como isso nem sempre ocorre, isso se torna um agravante no trânsito de Saratov. Apenas para comparação, eu acho o trânsito de Santa Maria mais agradável.

Um fato estranho quanto à distribuição das ruas em Saratov: não sei o motivo, mas existem algumas ruas que fazem uma pequena curva e depois prosseguem na mesma direção. Isso gera um problema quando se situa em um cruzamento, pois as quatro ruas irão convergir para um ponto em que não é possível se observar todas simultaneamente.

Bem, falar de Saratov passa por falar do centro: a Theater Square situa-se no centro da cidade... ao redor temos o prédio da administração ao norte, o Theatro e a biblioteca a oeste e ainda uma magnífica estátua de Lenin na própria praça. E estou em uma época privilegiada neste sentido: luzes natalinas e uma programação de Ano Novo durante a noite fazem da Theater Square um verdadeiro espetáculo ao ar livre... muitas pessoas no local durante a noite, mesmo em temperaturas abaixo de zero. E elas tem razão, vale a pena! Muitos brinquedos para crianças, uma pista de patinação (com gelo natural), uma árvore de natal enorme e muito bem iluminada, um enorme telão desejando С Новым годом (Feliz Ano Novo, em russo) a todos as pessoas presentes no local... e claro, o theatro, biblioteca, prédio da administração é até um banco privado em torno da praça também estão iluminados, de forma que completam o cenário. É uma programação de deixar no chinelo qualquer comemoração brasileira. E ficará lá por um bom tempo ainda, sendo que já estava ali desde que eu cheguei à cidade.

Além disso podemos destacar a presença de um circo que fica permanentemente na cidade (se não me engano, o primeiro desse gênero em toda a Rússia), mercados públicos em prédios históricos, uma espécie de ´camelódromo´ muito bem organizado, fontes (que, claro, estão congeladas) e muitas construções antigas, bem europeias. De resto, Saratov é exatamente como as outras cidades deste porte... comércio, trânsito, instituições, pessoas.

Bem, apenas uma quadra ao sul temos uma explêndida obra arquitetônica gótica: o Conservatório. Ainda não tive a oportunidade de ver por dentro, mas por fora é de longe, a meu ver, a construção que mais chama a atenção em Saratov. Muito bonito mesmo!

Enfim, de um modo geral a cidade é agradável... lugares interessantes para visitar, construções históricas bem cuidadas, praças magníficas e uma ponte dos sonhos para qualquer estudante de engenharia, hehe. Claro que Saratov possui muitos problemas que, acredito eu, não existam nos países do oeste europeu (não que esses países não possuam problemas, acredito apenas que são problemas diferentes). Enfim, os russos tem uma certa razão em considerar Saratov e outras cidades do mesmo porte como pequenas: elas se diferem bastante de cidades como essas no Brasil. Não totalmente, mas bastante.


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